sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Crônica Relâmpago

    Em 1982, Sinésio Bonfim se lançou candidato pelo então PSD à prefeitura do município baiano de Jaguaraquara. Seu slogan de campanha, inspirado nos Jogos Olímpicos, dizia "é ouro, prata e bronze!".
   Na noite de eleição, uma vez apuradas as urnas e constatada a derrota, a casa de Bonfim foi cercada por adversários, que se puseram a gritar:

   - E agora, Sinésio, é ouro, prata ou bronze?

   Durante horas ele suportou a provocação, até que, no meio da madrugada, não aguentou mais. Com uma arma na mão e atirando para o alto, saiu de casa gritando:

   - É chumbo!!!


(Não achei o link desse texto na internet, mas, por desencargo de consciência, escrevo que o surrupiei do meu livro de exercícios para o Enem)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Crônicas da Terra dos Papagaios - Jovens e Revolucionários


   O ano é de 1922 e faz uma tarde linda de sol, daquelas pra se aproveitar nas praças, nos quadros de um modernista qualquer ou até na praia de Copacabana, para os mais sortudos.     
   
   - Realmente é uma bela tarde pra quem pode aproveitá-la! - Resmunga o Dr. Odranoel, Seu Noel para os íntimos, olhando pra janela e amaldiçoando aqueles que foram abençoados com umas horas a mais, para aproveitá-las na praia, com um violão, porque não?!
   
   Não tiro a razão do Seu Noel, a propósito, passar uma tarde de sábado num consultório do IML não é coisa que se peça, mas, são uns trocados a mais, que vinham muito a calhar naquela época. 
   Pega então os próximos "defuntos" a serem examinados. Suas fichas: Eduardo Gomes e Siqueira Campos. Reconheceu aqueles nomes. São dois daqueles jovens mortos na revolta dos "18 do Forte", uma tristeza. "Pobres rapazes" pensa Noel. "Pobres e revolucionários, a história da humanidade!". Talvez não literalmente pobres, afinal, estudavam na tão aclamada Escola Militar, eram a nata da sociedade, o "crème de la crème". Talvez por isso mesmo se sentiram na obrigação de ir às ruas reivindicar justiça. Justiça, educação e o tudo mais que o povo merece. Arrancá-los à força das mãos dos coronéis. 
  De repente a tarde não importa mais. Nem aquelas crianças que ele vê brincando pela janela que incomodavam tanto. O Odranoel dos velhos tempos era assim também. Jovem e revolucionário, quase um pleonasmo.

   "Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética" 

   As palavras do grande Che ecoavam na sua cabeça. Até ensaiou uma lágrima, mas não era daquilo. E a tarde de tão bonita não merecia uma lágrima. 
   Pois bem, era hora de fazer seu trabalho, dinheiro não dá em árvores!
  Com um certo respeito trouxe os sacos pretos com os corpos pra mesa de examinação, e os abriu. E, incrivelmente, aquele corpo, aquele defunto, se levantou do saco, respirando arduamente. 
   
   O defunto se levantou! Um morto se levantou! Seu Noel correu quase que involuntariamente pra fora da sala. Pra poder procurar alguém, nem que seja só pra contar que um morto ressuscitou. Ressuscitou nada! Eduardo tinha é uma cabeça mais "na frente" que todos aqueles outros jovens. De que adiantaria morrer naquela rua? Talvez até adiantasse se mais alguém tivesse pego em armas. Ele precisava viver, ele e seu amigo Siqueira. Que os chamassem de covardes, não se importavam. Eles precisavam levar a revolução adiante!
   Quase sem conseguir pensar, Eduardo levantou da mesa num salto, procurou o saco do amigo Siqueira, e o abriu. Talvez até comemorassem o sucesso do plano se tivessem tempo. Mas não tinham, e o Seu Noel, no medo, havia chamado a polícia. Depressa abriram a janela, e nus mesmo, saltaram por ela. Pra começar a revolução! Mas, antes, pra achar algumas roupas!
  Quando os policiais chegaram na sala, encontraram dois sacos vazios e a janela aberta. Reportaram imediatamente pro Coronel, ou General, ou Tenente (quem sou eu pra saber dessas coisas?). E começou então a caça aos revoltosos fujões.

   Incrível como na mesma tarde duas senhorinhas conversavam na porta de casa:
   - Josefa, cê ouviu o que aconteceu? 
   - Dos meninos que fugiram?
   - Pois é menina! Que coisa! Dois meninos fugiram da morte e enganaram o EXÉRCITO DO BRASIL (ela realmente enfatizou essas palavras) se deitando no chão e fingindo de morto, você acredita?
   - Ai ai, essas coisas, só no Brasil mesmo!